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Dr. Miguel Nácul

Por que o cirurgião “convencional” deve conhecer a opção videolaparoscópica



A evolução da Medicina é dependente da incorporação de novas ideias e tecnologias, propostas por pioneiros. No entanto, a Medicina incorpora muito lentamente esses novos conhecimentos e avanços. Historicamente, pioneiros são perseguidos antes de serem homenageados como visionários após suas “novas” ideias, antes tão combatidas, se tornarem um novo padrão. Arthur Schopenhauer, conhecido filósofo alemão do século 19, dizia que toda a verdade passa por três estágios: primeiro, é ridicularizada; em segundo lugar, é violentamente contrariada; finalmente, é aceita como evidente. Isso é exatamente o que testemunhamos nos últimos 30 anos, do surgimento ao apogeu da cirurgia minimamente invasiva, em especial da videolaparoscopia.


Introduzida no Brasil nos anos 1990, a videolaparoscopia demonstrou ser uma tecnologia disruptiva, revolucionando a cirurgia e rapidamente se estabelecendo como padrão para o tratamento de grande parte das doenças em diferentes sistemas orgânicos e especialidades cirúrgicas. A evolução tecnológica determinou um significativo desenvolvimento na qualidade dos equipamentos e instrumentais videolaparoscópicos. Paralelamente, os cirurgiões evoluíram tecnicamente, ancorados em metodologias mais efetivas de treinamento, baseadas em simulação. Em pouco mais de 30 anos, a videolaparoscopia se tornou um procedimento terapêutico consolidado, aplicável para cirurgias de baixa, média e alta complexidade com mínima invasão.


Procedimentos por videolaparoscopia possuem inúmeras vantagens em relação aos procedimentos abertos, amplamente expressas na literatura científica: menor resposta inflamatória sistêmica ao trauma cirúrgico, melhor controle da dor, menor incidência de eventos de sítio operatório e de hérnia incisional e aderências, recuperação funcional mais rápida com diminuição do tempo de hospitalização e retorno mais precoce às atividades diárias, além de melhor resultado cosmético.


A videolaparoscopia determinou um novo patamar de atuação e formação profissional para os cirurgiões, pois cada vez mais procedimentos cirúrgicos abdominais vêm sendo realizados por esta técnica. O cirurgião é livre para escolher a técnica que vai utilizar para operar o seu paciente. Porém, cada vez mais, o paciente tem (e exerce) o direito de escolher o cirurgião que o irá operar. E os pacientes QUEREM realizar os seus procedimentos cirúrgicos de forma minimamente invasiva, por videolaparoscopia! Portanto, cabe aos cirurgiões buscar uma adequada formação técnica.


Há décadas a área médica conta com a ferramenta da simulação, amplamente usada para o ensino da videolaparoscopia. Todavia, habilidades básicas videolaparoscópicas não são suficientes no mundo atual para sustentar uma prática cirúrgica segura e minimamente invasiva. Assim, o desenvolvimento de habilidades “avançadas” é uma necessidade premente para cirurgiões, em especial para aqueles em formação, no sentido de possibilitar uma inserção em um mercado de trabalho cada vez mais demandante e competitivo. Os pacientes necessitam de profissionais capazes de realizar procedimentos cirúrgicos de alta complexidade por técnicas minimamente invasivas.


Todo profissional que não deseja ficar obsoleto muito rapidamente precisa encarar esta realidade. Não interessa a experiência que alguém acumulou nem o status que conquistou ou o dinheiro que acha que tem. Se não se renovar frequentemente, o cirurgião terá muitas dificuldades para entender e enfrentar o futuro. A importância das habilidades técnicas e destreza manual para os cirurgiões é um fato indiscutível. O cirurgião necessita desenvolver novas habilidades psicomotoras, nas quais o treinamento por simulação possui papel central. No entanto, para uma atividade profissional segura, efetiva e ética, o cirurgião necessita também desenvolver habilidades cognitivas e afetivas com tanto esforço quanto habilidades psicomotoras.


Não evoluir da cirurgia aberta para a minimamente invasiva expressa um completo desalinhamento com a evolução da cirurgia. Não é ruim duvidar da inovação. Todo médico deve desenvolver capacidade de analisar criticamente novas tecnologias. No entanto, evitar expressar um ceticismo dogmático sobre novos processos na sua área de atuação é também muito importante para que o profissional não estacione em conceitos superados. Entre uma “aceitação acrítica” e um “ceticismo exasperado”, a história se repete toda vez que inovações são propostas em cirurgia. Buscar uma adequada formação em videolaparoscopia não só expressa uma real evolução profissional como um passo fundamental para a sobrevivência na profissão no século XXI. Os pacientes agradecem!


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