Um mundo “fluido” tem legado interessantes artigos de opinião publicados em revistas científicas indexadas. Recentemente, o Dr. John P. Higgins, Cardiologista da McGovern Medical School da Universidade do Texas ( Houston, EUA) publicou no American Journal of Medicine interessante artigo em que enumera de forma clara e elegante “Ten Traits of Great Physicians” ou “Dez Características dos Grandes Médicos” com preciosas dicas para a prática profissional médica. (Higgins JP. Ten Traits of Great Physicians! And Tips to Help You Improve. Am J Med. 2023 Apr;136(4):355-359).
Grandes médicos têm certas características além do conhecimento médico. Embora bons médicos sejam bem treinados nas ciências básicas e clínicas, grandes médicos sustentam que outros hábitos são igualmente, senão mais, cruciais. Uma natureza curiosa ou uma abordagem de detetive para um paciente muitas vezes tem o poder de converter casos em pessoas reais com quem podemos ter empatia. O autor detalha hábitos e dicas aprendidas ao longo de sua vida profissional e que o ajudou a se tornar um médico melhor. Com citações de personalidades históricas famosas, o autor elenca importantes conceitos que todo o médico deve incorporar.
“To cure sometimes, to relieve often, to comfort always” - Edward Livingston Trudeau’s philosophy
1. Seja um detetive, como Sherlock Holmes
“When you have eliminated the impossible, whatever remains, however improbable, must be the truth” — Arthur Conan Doyle, The Case-Book of Sherlock Holmes
Sempre tenha a mentalidade de um detetive e, quando algo não bate certo, ou seu instinto lhe diz outra coisa, provavelmente há uma explicação alternativa. Então, vá mais fundo.
2. Fique saudável e relaxado
“Intelligence and skill can only function at the peak of their capacity when the body is healthy and strong” — John F. Kennedy
O exercício traz muitos benefícios físicos, mentais e emocionais, incluindo alívio da tensão, melhora da auto-imagem e melhora do humor. Ser saudável e forte lhe dará força e resiliência, ao mesmo tempo em que oferece a seus pacientes um médico que pode lidar com o estresse profissional.
A medicina absorve o Profissional dentro de sua atividade. Limites de atuação e carga de trabalho são constantemente expandidos. No entanto, as coisas se transformam em seus opostos quando chegam ao extremo. Por isso, é importante não levarmos as coisas ao limite. É fundamental reagrupar, recarregar e recuperar, e não fazer as coisas ao extremo. Muito trabalho leva a muito estresse, o que leva a danos ao corpo, física e mentalmente. Portanto, como médico, cuide-se adequadamente, para poder cuidar de seus pacientes.
3. Seja um mestre ouvinte
“Listen to your patient; he is telling you the diagnosis” — Sir William Osler
Isso significa usar todos os seus sentidos e conjunto de habilidades: ouvidos, olhos, coração, mente e intuição. É preciso se concentrar em seu paciente e ouvi-lo ativamente. Sente-se de frente para o paciente enquanto o ouve e observe sua linguagem verbal e não verbal, evitando o desejo de digitar no computador, dando ao paciente 100% de foco. Os pacientes ficam mais satisfeitos e mais propensos a seguir os conselhos se o médico passar um tempo adequado com o paciente, tiver boa comunicação interpessoal verbal e não verbal e entender as dema
ndas do paciente.
4. Descubra a sua paixão
“Your work is going to fill a large part of your life, and the only way to be truly satisfied is to do what you believe is great work. And the only way to do great work is to love what you do. If you haven’t found it yet, keep looking. Don’t settle” — Steve Jobs
Um trabalho significativo, especialmente aquele que se enquadra na interseção dos valores, paixões e pontos fortes de uma pessoa, parece ser a chave para os profissionais de saúde dar o melhor de si. Aqueles que são apaixonados por seu trabalho têm menos probabilidade de esgotamento.
5. Trate o paciente de forma integral
“A good physician treats the disease. The great physician treats the patient who has the disease.”—Sir William Osler
O grande médico observa e trata o paciente como um todo, de forma integral. A medicina holística, que procura abordar as dimensões psicológica, familiar, social, ética e espiritual e biológica da saúde e da doença, pode de fato ajudar alguns pacientes a controlar sua doença e a se curar. É preciso cuidado genuíno, gentileza e compaixão para se conectar com seus pacientes e curá-los.
6. Tenha empatia
“People will forget what you said, people will forget what you did, but they will never forget how you made them feel” — Maya Angelou
A empatia desempenha um papel crítico na relação médico-paciente e tem
um impacto positivo nos resultados de saúde. A boa notícia é que a empatia pode ser ensinada. a má notícia é que os médicos não são bons em praticá-la.
Conforme Daniel Goleman, escritor de renome internacional, psicólogo, jornalista e consultor americano, existem três tipos de empatia:
1) Empatia cognitiva (precisão empática): capacidade de entender o que uma pessoa pode estar pensando;
2) Empatia emocional (empatia afetiva): capacidade de compartilhar os sentimentos de outra pessoa;
3) Empatia compassiva (preocupação empática): capacidade de agir e ajudar como pudermos.
Os três tipos de empatia podem ser úteis para pensar em seu paciente de maneira empática, perguntando a si mesmo:
1) O que você pensaria?
2) Como você se sentiria?
3) O que você gostaria que alguém fizesse por você?
Esta técnica pode ajudar!
7. Preste atenção nos detalhes
“It’s attention to detail that makes the difference between average and stunning” — Francis Atterbury.
1) Atenção aos detalhes;
2) Tenha sempre um plano B caso ocorra algum problema;
Conforme Helmuth von Moltke, nenhum plano sobrevive ao contato com inimigo. Você entra com um plano A, mas as coisas mudam rapidamente e você precisa ter um plano B;
3) Tudo o que fazemos ou dizemos, ou deixamos de fazer ou dizer, tem consequências;
4) Nem todos os pacientes se comportam ou respondem igualmente.
8. Desenvolva resiliência
“It’s not the strongest of a species that survive, nor the most intelligent, but the ones most resilient and responsive to change” — Charles Darwin
Resiliência é necessária para sobreviver à frequente exposição à doença e à morte que os médicos enfrentam. Sem resiliência, a carga emocional que vem com a doen
ça e morte é muito pesada para a maioria das pessoas. Uma atitude otimista e uma forte rede de apoio social ajudam muito. Além disso, a reformulação cognitiva, o endurecimento, as conexões de aterramento e o equilíbrio entre vida profissional e pessoal são estratégias de construção de resiliência.
9. Assuma responsabilidade - a responsabilidade termina com você
“I am not a product of my circumstances. I am a product of my decisions” —Stephen Covey
Embora existam muitos atores no atual sistema de saúde, o médico é aquele que todos estão olhando para tomar uma decisão. Se você ainda não o fez, encontrará mo
mentos críticos em que cada minuto conta. Durante tais situações, você precisará de uma mente rápida, extrema calma e, o mais importante de tudo, determinação. Saiba que não tomar nenhuma decisão é uma decisão em si e tem suas consequências. Ousar decidir durante esses momentos críticos pode salvar uma vida. Não tenho dúvidas de que você experimentará uma sensação de realização e satisfação em seu trabalho diário, apesar de também experimentar frustrações e decepções. Durante esses momentos de decepção, lembre-se: “Você não se afoga caindo no rio, mas sim permanecendo submerso nele” (Paulo Coelho). E quando um dia você estiver cansado de todas as rotinas de um médico, lembre-se das palavras de John Rockefeller: “O segredo do sucesso é fazer as coisas comuns extraordinariamente bem”.
10. Conte as suas estrelas
“Lately, I’ve been, I’ve been losing sleep dreaming about the things that we could be. But baby, I’ve been, I’ve been praying hard said, no more counting dollars, we’ll be counting stars” — Letra da música “Counting Stars” da banda One Republic
Eu gostaria de pensar que o médico seja inspirado por sua missão de salvar vidas na medicina. Se você está gastando sua vida correndo atrás de moedas, vai perder a contagem de suas estrelas: as vidas que você já melhorou e salvou e as milhares de vidas que você ainda tem que tocar. Em outras palavras, quando você realmente segue sua paixão como médico, dinheiro e fama serão um subproduto de seus esforços. Mas se você perseguir o dinheiro e a fama em primeiro lugar, então a verdadeira alegria de ser um médico o iludirá.
O autor conclui que além dos conhecimentos médicos que descobrimos ao longo dos séculos que produzem um bom médico, existem certas características que os grandes médicos possuem. São os pequenos gestos ou pequenas coisas ditas pelo grande médico que fazem A DIFERENÇA. A aplicação de algumas dessas dicas ajudará você a aprimorar o atendimento ao paciente e a iluminar seu estrelado céu.
Eu adoro os artigos reflexivos do Dr. Miguel Nácul, digo os reflexivos porque estamos em especialidades com pouco overlap. Não deixo de ler nenhum deles. E, ahhhhh!, como gostaria que TODOS os estudantes de Medicina tivessem uma matéria que poderia se intitular “Reflexões médicas“. Nossa medicina seria diferente…🤨🤔