A pesquisa se concentrou em 104.630 pacientes e 3.314 cirurgiões, sendo 2.540 homens e 774 mulheres. De acordo com os autores, cirurgiões da divisão de urologia e ortopedia do Centro de Ciências do Sunnybrook Health da Universidade de Toronto e do Mount Sinai Hospital da Universidade Health Network (também de Toronto) e Houston Methodist Hospital, Houston, EUA, a prática cirúrgica adequada depende de conhecimento, capacidade de comunicação, julgamento e técnica – habilidades que, segundo eles, diferem cirurgiões de outros especialistas. Na verdade, homens e mulheres praticam medicina de maneira diferente, mas existem ainda poucas pesquisas sobre o estilo de aprendizagem, a adequação de habilidades e os resultados obtidos por cirurgiões homens e mulheres.
Conforme a professora Elisabete Gomes dos Santos, Membro Titular do CBC e cirurgiã-geral no hospital da Universidade Federal do Rio de Janeiro, uma explicação possível é que mulheres são mais focadas, menos sujeitas a distrações quando se empenham em uma tarefa. A cirurgia ainda é uma especialidade muito masculina. A mulher geralmente tem um segundo e um terceiro empregos: casa e filhos. A cirurgia tem forte demanda profissional. E uma mulher cirurgiã precisa estudar mais, trabalhar mais e mostrar que é competente muito mais vezes que um homem, se quiser se destacar. Até pouco tempo atrás, a própria condição de ser mulher eliminava candidatas em concursos para residência médica, em especial em áreas cirúrgicas. Chefes de residência reprovaram as candidatas mulheres com medo de que elas fossem engravidar e se afastassem do hospital, desfalcando a equipe. Esta realidade felizmente é muito menos presente nos dias atuais.
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O estudo da Universidade de Toronto sustenta a necessidade de um exame mais aprofundado dos resultados cirúrgicos e mecanismos relacionados aos médicos, processos subjacentes e padrões de atendimento no sentido de diminuir a mortalidade, complicações e reinternações. Médicos do sexo feminino e masculino diferem em sua prática da medicina de maneiras que podem afetar substancialmente os resultados dos pacientes. E os resultados após a cirurgia dependem das habilidades técnicas e cognitivas dos médicos responsáveis pelo tratamento que são desenvolvidas pelo treinamento e prática profissional em cima de talentos e habilidades do profissional.
Apesar do estudo ter encontrado apenas uma pequena diferença nos resultados cirúrgicos entre pacientes tratados por cirurgiões do sexo feminino e masculino, o risco reduzido, mas estatisticamente significativo, de morte pós-operatória em curto prazo em pacientes operados por cirurgiões do sexo feminino, demonstra o quanto mulheres são competentes para atuarem não somente em áreas clínicas, mas também em especialidades cirúrgicas, extremamente solicitantes do ponto de vista físico e emocional.
- Wallis CJ, Ravi B, Coburn N, Nam RK, Detsky AS, Satkunasivam R. Comparison of postoperative outcomes among patients treated by male and female surgeons: a population based matched cohort study. BMJ. 2017 Oct 10;359:j4366. doi: 10.1136/bmj.j4366. PMID: 29018008; PMCID: PMC628426
- Franco T, Gomes dos Santos E. Mulheres e cirurgiãs. Rev. Col. Bras. Cir. 37 (1), Fev 2010.