O desenvolvimento de procedimentos cirúrgicos tecnológico-dependentes exige novos métodos de ensino. Este conceito se aplica a videocirurgia. O treinamento do cirurgião necessita de uma base de desenvolvimento adquirida pela simulação cirúrgica precedendo ao seu treinamento em campo cirúrgico junto ao paciente. O desenvolvimento de habilidades cirúrgicas e a adaptação ao ambiente da videocirurgia não pode ser feito inicialmente no paciente. Nesta situação estaria caracterizada a experimentação em seres humanos.
Abaixo cito cinco razões para que o cirurgião em formação não treine inicialmente e diretamente no paciente:
1 - O modelo tradicional de treinamento do médico residente em campo cirúrgico descrito pelo cirurgião americano William Stewart Halsted no século passado (“see one, do one, teach one”) vem se mostrando inapropriado e limitado no treinamento em videocirurgia, sobretudo nas fases iniciais de treinamento.
2 - O treinamento em videocirurgia exige uma adaptação ao novo ambiente cirúrgico, completamente diferente daquele da cirurgia aberta. A aprendizagem psicomotora requer treinamento realizado em ambiente que reproduza o ambiente da videocirurgia, o que só conseguimos com a utilização de simulação cirúrgica.
3 - Programas de Residência onde cirurgiões em treinamento desenvolvem habilidades e experiência operando pacientes, mesmo sob tutoramento ativo, geram preocupações éticas ligadas à segurança do paciente pelo potencial risco oferecido pela inexperiência do cirurgião em treinamento.
4 - A simulação antecipa situações não usuais, achados inesperados, complicações, preparando o cirurgião para o enfrentamento de situações complexas em campo cirúrgico.
5 - O treinamento em simuladores diminui o stress associado ao treinamento diretamente no paciente, suavizando a relação preceptor/aluno e contribuindo para uma maior harmonia na equipe cirúrgica.
O treinamento por simulação permite a ultrapassagem da curva de aprendizado mais rapidamente com diminuição do número de erros e complicações o que determina aumento da segurança dos pacientes e melhores resultados. Em época de responsabilidade civil e bioética, o “errar é humano” não é mais aceitável por si só. Com a simulação, nós aprendemos para operar e não operamos para aprender, preenchendo uma importante premissa ética da relação médico-paciente.